terça-feira, 26 de julho de 2011

Doses de refúgio.


No rosto de Dalila era totalmente notável à imagem distorcida de quem um dia pareceu uma boneca de porcelana, seu rosto tinha a delicadeza e os traços perfeitos borrados, transfigurados a uma pintura crua e pavorosa da infelicidade.
Se em algum momento da sua vida tivera sido feliz, já não lembrava. A melancolia a fez esquecer dos sorrisos, como se as lágrimas fossem tantas a ponto de expulsar todos os outros sentimentos positivos que permaneciam por perto.
Dalila chegou ao ponto em que a sanidade precisava ser repelida, já não tinha mais forças para suporta-la. Vivia em seu mundo, com sua euforia planejada...álcool, música e drogas. Era disso que ela precisava pra esquecer.
Cresceu em meio as brigas dos pais e a rejeição dos colegas. Sozinha.
Pode parecer pouco, mas doía tanto. É que a solidão só é prazerosa quando é opcional.
Respirou fundo, inalando o cheiro familiar de cigarros e mofo de seu quarto e aos poucos deixou-se submergir ao delírio.
Do outro lado da porta as brigas começaram de novo, o transtorno... Do outro lado da janela o sol, a vida. Mas estava pressa em outro plano, no seu próprio mundo frágil. Conscientemente destruía a si mesma e deixava o tempo passar. Embora matar-se de uma vez fosse o refúgio mais eficaz, lhe faltava coragem para tirar a própria vida, matava-se aos poucos... mas tinha medo de morrer.
Em meio aos seus devaneios e insensatez, pensou em si mesma e a tristeza começou a invadir. Virou outro copo de Montilla. Cheirou um pouco mais de cocaína... E em seguida gargalhou. Era daqueles sorrisos carregados de mágoa, os que disfarçam o espanto. Estava feito, voltou outra vez pro seu mar anestesico . E quando a lucidez ou tristeza ameaçassem voltar, engoliria outras doses de euforia, ilusão.
Totalmente infeliz e insana, ela sorria.